No artigo anterior, falamos sobre a Psicose da IA – uma metáfora para descrever como a dependência exagerada de ferramentas de Inteligência Artificial pode comprometer nossa autonomia, criatividade e até mesmo a saúde mental. Mas esse não é o único “sintoma” da era digital em que vivemos.
Hoje, vamos explorar dois fenômenos que estão ganhando cada vez mais destaque: o Infinite Workday, ou “jornada infinita de trabalho”, e a Síndrome do Scrolling Infinito. Ambos refletem como a combinação entre IA, conectividade permanente e hábitos digitais pode transformar nossa rotina de forma silenciosa, mas profunda.
O Infinite Workday – quando a jornada de trabalho nunca termina
A promessa da Inteligência Artificial no ambiente corporativo sempre foi otimizar processos, aumentar a produtividade e liberar tempo para atividades estratégicas. Na prática, porém, em muitas empresas ocorre o contrário: a tecnologia estende a jornada de trabalho para além dos limites tradicionais.
E-mails respondidos à noite, relatórios que chegam automaticamente fora do expediente, notificações no celular a qualquer hora. A automação cria uma sensação de que é preciso estar sempre disponível. O resultado é a perda da fronteira entre vida pessoal e profissional.
Mais do que sobrecarga, o “Infinite Workday” traz consequências sérias: fadiga, queda na qualidade de entregas e impacto direto na saúde mental. A solução passa por uma implantação equilibrada de IA, acompanhada de governança clara, políticas de desconexão e cultura organizacional que valorize resultados – e não apenas horas conectadas.
A Síndrome do Scrolling Infinito – presos em um ciclo sem fim
Se no trabalho o desafio é a jornada interminável, no dia a dia pessoal enfrentamos outro sintoma: o scrolling infinito.
Alimentados por algoritmos de recomendação, nossos feeds de redes sociais e notícias nunca acabam. A cada deslizada de dedo, surge um novo conteúdo “sob medida” para manter nossa atenção. O problema é que esse hábito, repetido inúmeras vezes ao longo do dia, gera uma sensação de consumo compulsivo de informação, que compromete nossa capacidade de foco e concentração.
No ambiente corporativo, esse comportamento também traz reflexos: colaboradores menos produtivos, dificuldade em priorizar tarefas críticas e uma cultura de dispersão. A IA, que deveria ser aliada na eficiência, acaba reforçando a lógica da distração contínua.
Entre benefícios e riscos: a busca pelo equilíbrio
Nem o Infinite Workday, nem o Scrolling Infinito são inevitáveis. Ambos representam efeitos colaterais de uma tecnologia que, se usada sem critérios, pode se voltar contra seus próprios usuários.
A boa notícia é que há caminhos para evitar esses sintomas:
🔹 Governança clara do uso da IA no ambiente empresarial.
🔹 Políticas de desconexão digital para proteger o tempo de descanso.
🔹 Educação digital, estimulando o consumo consciente de informação.
🔹 Uso orientado da IA como ferramenta de apoio, e não como substituto de cada interação humana.
Assim como discutimos na Psicose da IA, o ponto central não é rejeitar a tecnologia, mas aprender a usá-la com inteligência e limites bem definidos.
E no próximo capítulo…
Este artigo é a segunda parte da nossa reflexão sobre os sintomas da era da Inteligência Artificial. Em breve, vamos avançar nesse debate com novos exemplos de como a tecnologia pode impactar nossa vida pessoal e profissional – e, mais importante, como podemos nos preparar para colher benefícios sem cair nas armadilhas do excesso.